Como seria uma alfabetização cartográfica para uma turma de educação infantil?

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Os alunos precisam compreender a função dos mapas para que consigam interpretar e produzir suas próprias representações do espaço. Saiba como iniciá-los nesse trabalho

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01/05/2011

Como seria uma alfabetização cartográfica para uma turma de educação infantil?

Exercício de orientação com base em
foto aérea 
A imagem mostra a EE Victor
Civita e seus arredores, em Guarulhos,
na Grande São Paulo. Veja como ler uma
foto desse tipo em classe seguindo
os três passos

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Conhecer a cartografia, um conteúdo essencial para a compreensão das relações entre espaço e tempo, permite ao aluno atender às necessidades que aparecerão no seu cotidiano (qual o melhor caminho para chegar a um lugar? Como conseguir localizar um amigo que vive em outra região?) e também estudar o ambiente em que vive. Sendo assim, a representação do espaço precisa ser dominada até o fim do Ensino Fundamental. Interpretar e produzir mapas são habilidades que se formam gradualmente. Por isso, é preciso desenvolver atividades com esse objetivo desde cedo. Por meio da alfabetização cartográfica, a turma entende conceitos básicos para conseguir interpretar e produzir representações com proficiência crescente.

Para tratar da cartografia de modo aprofundado, NOVA ESCOLA planejou cinco reportagens. A série conta com apoio pedagógico da professora Rosângela Doin de Almeida, livre-docente em Prática de Ensino de Geografia pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) e autora de diversos livros sobre o tema. Neste mês, você encontra as melhores formas de introduzir esse conteúdo nas turmas de 4º e 5º anos, além de um exemplo de atividade que não pode ficar de fora do planejamento (veja imagem ampliada).

Nas próximas quatro edições, mostraremos como progredir na complexidade dos trabalhos, com sugestões de atividades para o 6º, 7º, 8º e 9º anos. A história e a linguagem dos mapas, a forma de interpretá-los e estabelecer correlações entre eles, bem como a produção de um mapa de síntese são os pontos discutidos nas próximas reportagens.

Fotos áreas e de satélite ajudam a turma a analisar o espaço

Para interpretar um mapa, é necessário conhecer os conteúdos dele (população, divisão política, ocupação de solo, tipos de relevo e vegetação etc.) e saber os conceitos que fundamentaram a sua elaboração (localização, perspectiva, proporção, simbolização etc.), já que ele não se explica por si mesmo. Para compreender essa linguagem, a turma necessita aprender, por exemplo, conceitos de lateralidade e direção. Isso será útil para entender o posicionamento do espaço representado.

Outro passo é entender os sinais gráficos utilizados e os significados que eles podem ter. O vocabulário cartográfico é formado pelos mais diversos símbolos, que se relacionam entre si. Por exemplo: o que quer dizer 1cm - 1000 km, presente no canto de um mapa? Sem saber que se trata da escala de redução do espaço que ele representa, é impossível entendê-lo. O mesmo ocorre com as representações presentes na legenda. Não conhecendo a função desse recurso gráfico, é difícil compreender a relação entre as cores e formas presentes no mapa e o que significam.

Para introduzir essas noções e ajudar a turma a adquirir visão espacial, o trabalho com imagens aéreas e de satélite é um importante aliado. Sites como o Google Maps e programas como o Google Earth permitem visualizar mapas e fotos que podem ser analisados e comparados com outros tipos de representação, como croquis produzidos pelos alunos (leia a sequência didática).

Essas ferramentas mostram a forma como as fotografias áreas são produzidas: pela sobreposição de um mapa a uma imagem de satélite. Com isso, os alunos conseguem perceber a perspectiva utilizada para representar o espaço e as diferenças entre a imagem aérea e sua representação cartográfica. Os mapas virtuais permitem ainda uma mobilidade de observação: o aluno pode ir para cima e para baixo, para a direita e para a esquerda, rotacionar as imagens e alterar a escala, a localização, a perspectiva (podendo até passear pelas ruas) e os símbolos necessários para a sua compreensão.

Escalas reduzidas são facilmente reconhecidas pelas crianças, pois têm uma forte ligação com o que é observado. No Colégio Universitário Geraldo Reis, ligado à Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, o professor Luiz Miguel Pereira analisou fotos áreas da escola e de seus arredores com as turmas de 4º ano. Várias imagens da região, com diferentes escalas, mas todas com a mesma perspectiva, foram usadas. "Assim, a turma conseguiu identificar pontos diferentes a cada observação e foi expandindo o olhar", diz o professor. Usando essas imagens, é possível explorar o que os alunos já sabem sobre a região e acrescentar novos elementos - vale frisar que você deve conhecer bem a área representada para poder fazer intervenções durante a leitura.

Se a turma tiver dificuldade para identificar os elementos da paisagem, indique alguns destaques da foto, questionando: o que predomina do lado direito? São casas? Áreas industriais? O que não aparece? Elementos da infraestrutura urbana também podem ser apontados: é possível ver o posto de saúde? Ele está fora da foto? Ou não temos um em nossa região? Lançando essas perguntas, você introduzirá também a questão da ocupação do solo, que já pode começar a ser trabalhada com turmas dessa faixa etária.

Dominar os códigos, a função e as formas de representação

Os desenhos e as maquetes são atividades complementares à análise de fotografias. Entretanto, uma não é pré-requisito de abordagem à outra e não há uma ordem de ensino entre elas. O importante é que os alunos tenham contato com essas diferentes representações do espaço para que possam refletir sobre a função e as formas de produção dos mapas.

Ao produzir maquetes, você tem a oportunidade de ensinar conceitos de proporção, projeção e escalas gráficas e numéricas, mostrando todas as estratégias que podem ser utilizadas quando se quer recriar uma paisagem. Elas permitem uma discussão sobre como mostrar toda a área sobre um só ponto de vista e de que forma manter a proporcionalidade entre os elementos representados. "Com base em problemas desse tipo, o aluno poderá se dar conta de relações espaciais complexas", diz Rosângela.

Outra atividade inicial importante, a produção de desenhos que representem a sala de aula ou o trajeto da criança até a escola, pode ser trabalhada simultaneamente. Essas representações trazem informações que ajudam muito o trabalho docente. É possível perceber, por exemplo, conceitos que as crianças já conhecem e as maneiras que elas encontram para localizar e descrever o espaço. "Esses desenhos não são só a cópia de objetos, mas a interpretação do real. O mapa também é o recorte de uma realidade", explica Fernanda Padovesi, docente da Universidade de São Paulo (USP).

Alunos que são incentivados a fazer esse tipo de desenho desenvolvem referência e orientação espacial, fundamentais para o entendimento de mapas. Num segundo momento, com sua ajuda, eles podem construir símbolos para representar no mapa o que veem no mundo real. Por exemplo, se querem mostrar áreas verdes ou um lago, têm que representá-los por símbolos diversos. Assim, aos poucos e trabalhando com essas atividades, eles aprendem a explorar essa linguagem e se apropriam da "gramática" necessária para compreender e produzir mapas.

Reportagem sugerida por 3 leitores: Jaqueline Mathias Pereira, Volta Redonda, RJ, Lindinalva Barbosa Santos, Santana do Ipanema, AL, e Paulo Torres, Caruaru, PE

Dica do especialista

"É preciso ensinar a cartografia como uma ciência crítica e não como o mero cálculo de escalas e coordenadas. É possível, por exemplo, incluir histórias para contextualizar fatos cartográficos importantes, como a criação do Primeiro Meridiano de Greenwich. Os alunos precisam pensar na utilidade dessa linguagem e no impacto histórico desses recursos."

Jorn Seemann, professor do Departamento de Geociências da Universidade Regional do Cariri (Urca)

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CONTATOS
Jorn Seemann
Rosângela Doin de Almeida

BIBLIOGRAFIA
Cartografia Escolar
, Rosângela Doin de Almeida (org.), 224 págs., Ed. Contexto, tel. (11) 3832-5838, 39 reais
Do Desenho ao Mapa, Rosângela Doin de Almeida, 120 pág., Ed. Contexto, 25 reais

INTERNET 
Mapas variados e ferramentas para criar cartografias com dados sociais, populacionais e econômicos.
Imagens aéreas e mapas gratuitos
Informações sobre como trabalhar com o tema.

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Como é possível desenvolver uma alfabetização cartográfica nos alunos?

Para compreender essa linguagem, a turma necessita aprender, por exemplo, conceitos de lateralidade e direção. Isso será útil para entender o posicionamento do espaço representado. Outro passo é entender os sinais gráficos utilizados e os significados que eles podem ter.

Como trabalhar a cartografia na Educação Infantil?

Com papel e lápis ou canetinhas (coloridas ou não), escolha um cômodo e, acompanhado da criança, desenhe no papel a forma do cômodo e, juntos, desenhem os elementos do quarto (móveis, plantas, objetos grandes, etc). A partir disso, é possível introduzir a ideia de representação de um espaço em uma folha de papel.

O que é cartografia na Educação Infantil?

A Cartografia Infantil pode ser definida, portanto, segundo Barros (2006), como o ensino de diversas formas de representação espacial, com o objetivo de preparar o aluno para compreender a organização espacial da sociedade, tendo o mapa como veículo de informação.

Como trabalhar a cartografia em sala de aula?

A proposta é muito simples: fazer com que os seus alunos encontrem objetos utilizando um ou mais mapas, a fim de que eles compreendam a importância de estudar cartografia. Para isso, antes de iniciar a aula, o professor deve produzir um mapa – ou um esboço – da área em que será realizada a brincadeira.