Como o supervisor escolar pode contribuir com a aprendizagem dos alunos?

Juliana Mendes de Oliveira

Juliana Mendes de Oliveira

Coordenadora Pedagógica na Prefeitura Municipal de São Carlos

Published Oct 29, 2019

A importância da ação supervisora no ambiente escolar com uma concepção mais pedagógica.

 Juliana Mendes de Oliveira

Resumo

 

No Brasil, foi o Programa de Assistência Brasileiro-Americana ao Ensino Elementar       (PABAEE) que deu início histórico à supervisão em nosso país. Nos anos de 1957 a 1963 a profissão do supervisor obteve grande repercussão por ser novidade no Brasil e era marcada por uma concepção tecnicista, com arraigado caráter técnico. O artigo em questão foi realizado por meio de análises bibliográficas que tratam o papel do supervisor nas unidades escolares e suas funções no contexto histórico brasileiro. Retrata a relevância do papel do supervisor como parceiro dos docentes e dos estudantes. Objetiva contextualizar a função do supervisor historicamente e salientar a necessidade dessa função deixar de ter um caráter técnico, controlador e fiscalizador para, na atual sociedade, ser uma função de apoio ao docente para a garantia da cidadania, para a qualidade do ensino e educação. Todavia, na perspectiva delineada neste artigo, a supervisão deixa de estar a serviço da manutenção do status quo para proporcionar as mudanças dentro da instituição escolar. Portanto, é ressaltada  a relevância de se ter a ação supervisora dentro das unidades escolares com uma concepção mais pedagógica, deixando de realizar uma função fiscalizadora e tecnocrata, para ter uma função de parceria, por meio da interação entre supervisor, docentes e estudantes cujo objetivo é o de proporcionar um ensino de qualidade.

 

PALAVRAS- CHAVE: Supervisão Escolar.  Unidade escolar. Viés pedagógico.

 

 

1.     INTRODUÇÃO

 

A escola é a instituição que trabalha com o ensinar, com o saber e com a aprendizagem do estudante, cujo foco é a aprendizagem do estudante e para tal muitos podem ser os envolvidos para que esse processo se dê de forma exitosa. O docente, o estudante, a família do estudante, a comunidade em geral, os gestores e sem dúvidas, o supervisor.

Nesse contexto escolar, o profissional supervisor, que historicamente e por algum tempo teve seu papel e função definido com dotado caráter técnico, controlador e fiscalizador será o foco desse artigo.

Atualmente, o trabalho deste profissional, se dá em parceria com os docentes para a garantia da cidadania, para a qualidade do ensino e da educação.

Todavia, com as novas exigências, esse profissional não dá mais conta de ficar “lotado” única e exclusivamente em secretarias de educação realizando funções burocráticas, sua função e exercício se estende ao ambiente escolar.

Rangel (1997) afirma que o supervisor deve ter seu espaço garantido na unidade escolar, pois é na escola que ele poderá exercer sua função de líder, formador, contribuir para a formação docente e para a aprendizagem do estudante.

Segundo a autora, o trabalho do supervisor se constrói diariamente no cotidiano da escola, por meio de ações que envolvem um trabalho de apoio e assistência ao docente realizado e proporcionado em forma de: planejamento, parceria, coordenação, análises, reformulações no desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem.

Sendo assim, o supervisor é compreendido por Rangel (1997) como função essencial de apoio aos docentes, com o objetivo de garantir a efetiva aprendizagem dos estudantes perdendo o caráter de um profissional tecnocrata e fiscalizador e ganhado um caráter articulador do fazer pedagógico.

Dentro desse contexto, o trabalho da supervisão revela-se por meio de princípios de participação coletiva e de formação docente continuada, em que garante a qualidade social, pedagógica dos serviços e práticas escolares. Além disso, é importante destacar que os supervisores possuem importante papel de liderança para o avanço de princípios, processos e práticas que favorecem a aprendizagem, partindo do pressuposto de que o conhecimento é direito do cidadão e valor essencial das instituições comprometidas com a educação.

A atuação do supervisor dentro de uma perspectiva pedagógica contribui efetivamente para um trabalho em grupo e formativo, em que a aprendizagem do estudante é o objetivo principal e a ação e atuações do supervisor são direcionadas para um aprendizado efetivo.

 

2.      METODOLOGIA

 

Este artigo foi elaborado a partir de uma pesquisa bibliográfica, que se pautou na leitura e análise das duas obras organizadas pela escritora Rangel (1997; 2001).

Segundo Appolinário (2011), a pesquisa bibliográfica restringe-se à análise de documentos e tem como objetivo a revisão de literatura de um dado tema, ou determinado contexto teórico.

Para Marconi e Lakatos (1992), a pesquisa bibliográfica é o levantamento de toda a bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. A sua finalidade é fazer com que o pesquisador entre em contato direto com todo o material escrito sobre um determinado assunto, auxiliando o cientista na análise de suas pesquisas ou na manipulação de suas informações. Ela pode ser considerada o primeiro passo de toda a pesquisa científica.

De acordo com Severino (2007), os registros disponíveis são fontes importantes e podem se expressar como temas a serem pesquisados e analisados para pesquisas futuras.

Dentro desse contexto, a literatura pesquisada permitiu observar o supervisor escolar em uma perspectiva diferenciada do que estamos acostumados a vivenciar no dia a dia escolar.

 

 

3.     DESENVOLVIMENTO

 

No Brasil, foi o Programa de Assistência Brasileiro-Americana ao Ensino Elementar       (PABAEE) que deu início histórico à supervisão em nosso país.

Nos anos de 1957 a 1963 a profissão do supervisor obteve grande repercussão por ser novidade no Brasil e era marcada por uma concepção tecnicista, com arraigado caráter técnico. 

Dentro do contexto supracitado a profissão do supervisor era marcada pelo controle da prática educativa e objetivava no setor político a capacitação e o treinamento dos mesmos para atender as demandas do setor produtivo capitalista. Portanto, era voltado para o controle e a produtividade.

Segundo Rangel (2001) era importante que a supervisão desenvolvesse um trabalho junto aos professores, “interferindo, diretamente, no que ensinar e avaliar, educando professores e alunos para uma educação escolar fundada na ordem, na disciplina e na hierarquia”. (p.40)

Diante disso, a supervisão tinha uma perspectiva e um ideário de profissionalizar o profissional da educação, diminuindo a dimensão educativa e supervalorizando o âmbito burocrático e técnico.

Atualmente, em decorrência as transformações sociais uma nova concepção de supervisor é delineada e o caráter burocrático e técnico começa a ser superado.

Segundo Rangel (2001),

 

(...) a ideia e o princípio de que o supervisor não é um "técnico" encarregado da eficiência do trabalho e, muito menos, um "controlador" de "produção"; sua função e seu papel assumem uma posição social e politicamente maior, de líder, de coordenador, que estimula o grupo à compreensão – contextualizada e crítica - de suas ações e, também, de seus direitos (p. 150-151).

 

 

            Tal fato nos sinaliza um novo perfil da profissão do supervisor, em que o caráter de apoio ao estudante e ao docente ganha um patamar diferente ao perfil que historicamente este se constituiu entre as décadas de 50 e 60. 

Dentro dessa perspectiva a supervisão educacional tem um sentido maior, ultrapassando as atividades da escola e refere-se aos aspectos estruturais e sistêmicos
da educação em nível macro. (RANGEL, 2001)

 De acordo com Rangel (2001) ser supervisor é estar em constante parceria com os demais profissionais da unidade escolar.  Configura estabelecer relações integradas entre docente-supervisor-estudante para garantir o êxito do processo de ensinar e aprender. Requer práticas inovadoras, para aprimorar as metodologias educacionais, para formar docentes, além de contribuir na articulação dos saberes na construção do Projeto Político Pedagógico e verificar, apurar os resultados das aprendizagens. Nessa perspectiva, o foco é a qualidade do ensino e a aprendizagem do estudante e o docente é que dá sentido ao trabalho do supervisor.  (RANGEL, 1997)

Por outro lado, é importante destacar que o supervisor tem um papel fundamental dentro desse processo, pois (...) é o sujeito que faz a leitura da escola em sua totalidade (...) (MEDINA, 1997, p.18).

Segundo Rangel (2001),

 

Na compreensão e no entendimento da forma de tratamento dado pelo professor aos conteúdos e às condições de existência dos alunos que o supervisor sistematiza seu trabalho no interior da escola. Estas duas dimensões configuram o processo de ensinar e aprender, que se dá numa relação entre o professor que ensina-e-aprende, o aluno que aprende-e-ensina e o supervisor que orienta-aprende-e-ensina, embora não se possa identificar com precisão quem inicia este processo. Este processo está sendo por mim denominado como “parceria”. (p.30)

 

 Todavia conhecer o cotidiano escolar se faz necessário para conquistá-lo e para planejar ações que permitam sua transformação na garantia de mudanças na instituição escolar.

Segundo Rangel (1997), o supervisor torna-se um parceiro político-pedagógico do docente que contribui para desorganizar o pensamento do docente num movimento de participação continuada, em que os saberes e conhecimentos se confrontam e se reestruturam na busca do processo de ensino e aprendizagem.

Assim sendo, ao conhecer o cotidiano de trabalho do docente e o local de aprendizagem dos estudantes, o supervisor pode atuar junto a realidade citada de maneira mais efetiva, possibilitando um olhar dentro de uma perspectiva que envolvam  gestões educacionais democráticas e tomar medidas adequadas  para facilitar o trabalho ao nível do cotidiano  das escolas e melhorar a qualidade de ensino.

 

Ao superpoder orientador e controlador contrapõe-se uma concepção mais pedagógica da supervisão concebida como coconstrução, com os professores do trabalho diário de todos na escola. O supervisor passa assim a ser parte integrante do coletivo dos professores, e a supervisão realiza-se  em trabalho em grupo. (RANGEl, 1997, p.12)

 

 Dentro desse contexto, o supervisor pode ser compreendido como o profissional de múltiplos olhares que possui função sociopolítica crítica e a capacidade de compreender as intenções implícitas do sistema escolar. O supervisor é o profissional que pode intermediar a mudança e contribuir para o pleno exercício da cidadania. (RANGEL, 1997)

Assim o trabalho do supervisor se caracteriza como uma ação pedagógica que se constitui dentro de um paradigma de assistência ao docente, que se concretiza por meio do planejamento, de coordenação e avaliação do processo de ensino e aprendizagem.

Como podemos observar o supervisor pedagógico tem um papel fundamental em uma unidade escolar, considerando que é o 'especialista’, que pode garantir uma atuação efetiva para a melhoria do ensino nas unidades escolares, à medida que auxilia os docentes em suas práticas pedagógicas, contribui para a contínua formação dos docentes, verifica se as aprendizagens dos estudantes estão ocorrendo e, conjuntamente a toda equipe escolar, elabora um plano de ação para que os problemas sejam solucionados ou mesmo amenizados. 

Os supervisores possuem importante papel de liderança para o avanço nos princípios, nos processos e nas práticas que favorecem a aprendizagem, com o pressuposto de que o conhecimento é direito do cidadão e valor essencial das instituições comprometidas com a educação.

Para Rangel (2001),

Por está razão, pensar a prática cotidiana da escola requer profundo esforço prático-teórico e teórico- prático por parte do supervisor. Este esforço contribui significativamente para compreender a realidade escolar, sugerindo perguntas e indicando possibilidades. Este esforço é feito em parceria com os demais agentes educacionais que atuam na escola, especialmente o professor regente da sala. ( p.30)

 

 Dentro do contexto supracitado o supervisor é o profissional que deve atuar junto ao docente, contribuindo nas práticas pedagógicas e no desenvolvimento das metodologias, para garantir o rendimento escolar do estudante.

Assim, os dados pesquisados na literatura, nos sinalizam que o supervisor tem um papel importante ao que se refere a prática articuladora e coletiva para promoção de alternativas que se dispõe a uma educação ao serviço das relações democráticas.

 

4.     CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Historicamente, o papel da supervisão esteve dotado de uma perspectiva e um ideário de profissionalizar o profissional da educação, diminuindo a função educativa e valorizando o âmbito burocrático e técnico. Porém, a literatura pesquisada permitiu observar o supervisor escolar em uma perspectiva diferenciada do que vigorou nos anos de 1957 a 1963, onde a supervisão era marcada por uma concepção tecnicista, com arraigado caráter técnico.

 Atualmente, e em decorrência das transformações sociais, essa concepção de supervisor necessita ser superada. Portanto, a literatura pesquisada permitiu observar o supervisor como um parceiro político-pedagógico do docente. Portanto, o contexto de trabalho deste profissional passa ser a unidade escolar. Porque inserido nesse contexto, esse profissional consegue articular as práticas, trabalhar em equipe para o desenvolvimento de um currículo que dê conta de atender as necessidades dos estudantes, da escola e primar pela qualidade do processo ensino e aprendizagem.

 Entretanto, o papel do supervisor somente ganha essa dimensão pedagógica e de fundamental importância dentro das unidades escolares, quando existe a interação e a reflexão dos diferentes segmentos que constitui a escola.  Sendo assim, é importante a superação do caráter burocrático e técnico que era enfatizado nas décadas de 50 e 60 para atual perspectiva de um trabalho efetivamente pedagógico, em que o supervisor desenvolve um papel de líder, de coordenador que pode estimular a equipe a compreender as ações.

 

 

5.     REFERÊNCIAS

 

APPOLINÁRIO, F. Dicionário de Metodologia Científica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Editora Atlas, 1992. 4a ed. p.43 e 44. MARCONI, Técnicas de pesquisa. São Paulo: Editora Atlas, 1985. P.70.

MEDINA, A. S. Noves olhares sobre a supervisão. Supervisor Escolar: parceiro político-pedagógico do professor. Campinas, SP: Papirus, 1997.

RANGEL, M. (org.). Supervisão Pedagógica: Princípios e Práticas. Campinas, SP: Papirus, 2001.

RANGEL, M. (org.). Nove Olhares Sobre a Supervisão. Campinas, SP: Papirus, 1997.

PAIXÃO, A. S. Noves olhares sobre a supervisão. Supervisor Escolar: parceiro político-pedagógico do professor. Campinas, SP: Papirus, 1997.

SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico

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Qual a importância do supervisor escolar no processo de ensino

O supervisor escolar exerce um papel fundamental, contribuindo com o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem. Esse profissional é responsável de realizar em conjunto com os educadores o planejamento do que será ministrado em sala de aula, obsevando as diretrizes educacionais.

Como o supervisor pode ajudar o professor?

O supervisor precisa garantir que todo o professor educativo dentro da escola funcione e dê resultados. Para isso, ele também precisa direcionar a formação dos professores para que ela corresponda aos padrões exigidos pela escola a fim de alcançar o objetivo almejado.

Como o supervisor escolar pode contribuir com a formação e atuação profissional dos professores?

O supervisor é referência frente ao trabalho pedagógico realizado na escola, pois ele é o responsável pela articulação dos saberes dos professores (sujeitos com concepções, valores, ideais e comportamento, e que antes de tudo acreditam em determinadas teorias) e pela proposta de trabalho da escola.

Quais as ações do supervisor escolar?

O Supervisor Escolar coordena juntamente com o Orientador Escolar, o Conselho de Classe em seu planejamento, execução, avaliação e desdobramentos o Assistente Técnico Pedagógico participa dos conselhos de classes, reuniões pedagógicas e de projetos especiais.