RESUMO Show O presente trabalho propõe-se como um novo olhar sobre o poeta Vinícius de Moraes. Percorrendo a história da música e da poesia, origem e evolução, procuraremos considerar qual o significado e a real importância da música e da poesia para Vinícius de Moraes. Outra proposta presente neste trabalho é a observação de quais as influências que Vinícius teve em sua obra e se estas influências são positivas ou não. Um traço marcante na obra de Vinícius de Moraes é o fato de que ela seja carregada de melancolia, este tema será analisado segundo Freud e também, no âmbito literário, utilizando teóricos como Mauricie Blanchot. Por fim, este trabalho, pretende estabelecer um protocolo de leitura para Vinícius de Moraes, poeta que é pouco lido e mal interpretado por muitos. Palavra chave: Amor, idealização romântica, música, poesia, Vinícius de Moraes. SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
À primeira vista, para um leitor desavisado, pensa-se na obra de Vinícius de Moraes como sendo somente simples textos de prazer, mas na verdade, o leitor desavisado, deixando-se influenciar pela crítica, depara-se com a obra de Vinícius de Moraes com um olhar pré-conceituoso, pré-concebido pela crítica, que o coloca como poetinha, não por ser um mero apelido carinhoso, mas por considerá-lo um poeta menor. No decorrer deste trabalho, poderemos observar que Vinícius de Moraes não somente foi um grande poeta/músico, mas também um poeta que ousou ser anacrônico, ser Ultra-Romântico em pleno Modernismo brasileiro. No primeiro capítulo será feito um breve relato sobre a origem da música e da poesia, que surgem no mundo quase que ao mesmo tempo. Iremos percorrer as origens da história, o berço das civilizações ocidental e oriental. No segundo capítulo, num retorno à origem da literatura brasileira, passaremos pelas diversas estéticas literárias comprovando por meio de poemas a influência dessas estéticas na obra de Vinícius de Moraes. No terceiro capítulo será aprofundada a questão do romantismo, em especial do ultra-romantismo, em Vinícius de Moraes. Será analisada a questão melancólica presente e marcante na obra do poeta No quarto capítulo será analisado o soneto Sinto-me só como um seixo de praia, por ser um poema que parece mostrar as faces de Vinícius poeta, músico, homem, amante. Por fim, esta análise tem a pretensão de ser como um protocolo de leitura, do qual o leitor poderá se posicionar de maneira crítica ao ler Vinícius de Moraes, porém sem deixar o poema perder a essência emocional que tanto guiou a vida e a obra de Vinícius de Moraes. 1 MÚSICA E POESIA: PALAVRAS INICIAIS Este capítulo contém um breve relato sobre a trajetória inicial da música e da poesia, irmãs gêmeas, mais do que isso, siamesas. A música e a poesia estão interligadas. Em primeiro lugar é preciso que estabeleçamos um conceito de música para definirmos melhor afinal o que é música.
Esta definição pode ser encontrada na prática musical de Vinícius de Moraes, pois ele, perfeccionista como era, deixou imprimido em suas canções essa combinação ordenada de sons e com freqüência bem definida, que podemos observar na canção Samba de Gesse ;
Também por meio desta definição podemos nos remeter a idéia de instrumentos musicais afinadíssimos e bem tocados por músicos, que passaram anos num conservatório musical, aperfeiçoando-se no instrumento escolhido. Mas, segundo Montanari (1988, p. 5), na contemporaneidade a música assimilou novos significados e o que era considerado ruído, hoje entende-se como música, o que fez com que a idéia de música ficasse mais ampla. Então, quando pensamos em música segundo o conceito contemporâneo, podemos afirmar que a música sempre existiu eventual e aleatoriamente na natureza. Os sons produzidos pela natureza transmitem sentimentos e energias às pessoas, que param para observar e escutar o grande musical produzido pela natureza (MONTANARI, 1988, p. 5). O som do vento cortando o ar e balançando as folhas das árvores; o som das águas calmas de um riacho ou o barulho de uma corredeira e de uma linda cachoeira, o som dos mais variados pássaros, os animais que vivem nas matas e que utilizam diferentes sons para se comunicarem, no mar as baleias e os golfinhos também emitem sons e se comunicam por meio deles. Como vimos a natureza oferece música graciosa e linda que nem sempre as pessoas sabem apreciar. A natureza além de musical é poética, o ambiente e tudo que envolve o universo natural são poético-musicais. O homem também faz parte da natureza, e como um ser da natureza ele também é um ser musical nato.
Da forma como Montanari (1988) coloca a música e nos propõe uma reflexão sobre como fazer música, podemos pensar na nossa infância quando a mãe ou o pai nos pegava no colo e cantava cantigas de ninar, e ainda bebês tentávamos reproduzir a música, mas só se ouviam ruídos, esses ruídos eram nossas primeiras músicas, ou pelo menos, nossas primeiras tentativas musicais. A criança, quando adquire suas primeiras palavras, é capaz de memorizar pequenos trechos e melodias e é neste momento que a música se torna uma grande aliada da educação, pois, através de letras e melodias de fácil assimilação para a criança, pode-se ensinar novas palavras, histórias e a cultura do lugar onde se vive. As cantigas de roda e as parlendas, por serem fáceis de cantar são apreendidas facilmente pelas crianças, que além de aprender se divertem, e é por isso que muitas dessas canções marcam a infância de todos. Sempre ligado a diversas expressões artísticas, o poeta Vinícius de Moraes também escreveu músicas e poesias com temas infantis que marcaram várias gerações e que ainda hoje são muito utilizadas pelos educadores, sejam eles professores ou não, por isso ainda continua marcando a vida e a história de muitas crianças. Cito a música A Casa e a poesia As Borboletas de Vinícius de Moraes que há gerações vem sendo utilizadas pelos educadores em sala de aula e também pelos pais em casa:
Percebemos a capacidade de desarticulação do simples, do trivial na temática da canção. As considerações a respeito da casa, de tão absurdas, começam a perder a ligação e a referência inicial, incitando a imaginação e a criatividade infantil.
É notável a preocupação do poeta com o aspecto lúdico no poema As Borboletas. As rimas associam cores a características, criando uma identidade falsa entre características que a princípio são separadas, o que, aliás, indica um procedimento bastante relevante na expressão poética. 1.1 A música nas primeiras civilizações De acordo com os historiadores, as primeiras civilizações surgiram no Oriente Próximo. De acordo com Montanari (1988, p. 8),
1.1.1 Os Sumérios É interessante destacar os sumérios, não somente por terem sido um dos primeiros povos, mas pela importância cultural que esse povo deixou de herança a outros povos como os caldeus e os assírios. A maioria dos instrumentos que conhecemos até a atualidade teve sua origem com os sumérios. Por exemplo, a harpa, a lira, a tamboura (ancestral do alaúde, um tipo de guitarra acústica com braço longo), flauta, trompete, bumbo, tamborim, pratos e sinos. (MONTANARI, 1988, p. 9). 1.1.2 Os hebreus Para o povo Hebreu a música era sagrada, e tanto a música como a dança eram utilizadas em cerimônias religiosas. A fonte de pesquisa para os historiadores sobre os hebreus é a Bíblia Sagrada, e por ter sido um povo que se mudou constantemente e que foi escravizado várias vezes por outras civilizações, quase não existe material de pesquisa sobre a cultura deste povo. Na Bíblia a primeira referência que se tem sobre música está no livro do Êxodo, capítulo 15. Moisés havia libertado o povo hebreu, que era escravo no Egito e depois de atravessar o mar vermelho, Moisés então entoou um cântico:
Neste mesmo episódio da história do povo hebreu, a Bíblia indica a presença de alguns instrumentos: A profetiza Maria, irmã de Aarão, tomou seu
tamborim na mão, e todas as mulheres seguiram-na dançando com tamborins.
Segundo Montanari (1988, p. 10),
Em todos os momentos importantes da história do povo hebreu, a música estava presente e houve momentos que, segundo a Bíblia, o próprio Deus ordenou o uso de instrumentos, como por exemplo, na conquista da cidade de Jericó. Depois que Moisés tirou o povo do Egito, durante 40 anos os hebreus caminharam pelo deserto até chegar à terra prometida por Deus, e depois que Moisés morreu, Josué se tornou o novo líder dos hebreus e sua missão era entrar com o povo em Jericó.
A melhor fase da música hebraica foi na época do rei Davi que escreveu os Salmos [que são cantos de louvor e adoração a Deus], e de seu filho o rei Salomão que escreveu o Cântico dos Cânticos [poemas de Salomão para serem cantados nas cerimônias de casamento].
Podemos observar que o livro de Salomão começa com um poema, onde o eu-lírico é feminino, é o canto da noiva para o noivo. O primeiro cântico cristão, no sentido de exaltação a Deus e a Cristo, foi feito por Maria, a Mãe de Jesus Cristo. Maria ao tomar conhecimento de que seria a mãe do Cristo, avisada pelo anjo Gabriel da gravidez de Izabel sua parenta, que era de idade já avançada, vai até Izabel para ajudá-la. E quando encontra Izabel, movida de grande alegria, Maria canta o Magnificat:
Segundo o catecismo da Igreja Católica (CIC, 1993, n° 333, p. 98);
Para os cristãos Católicos a música é parte essencial nas celebrações litúrgicas, é através da música que o cristão busca sua interiorização e o seu relacionamento de intimidade com Deus, pois Quem canta, reza duas vezes. O canto e a música desempenham funções de sinais de maneira tanto mais significativa por estarem intimamente ligados à ação litúrgica, segundo três critérios principais: a participação unânime da assembléia nos momentos previstos e o caráter solene da celebração. Participam assim da finalidade das palavras e das ações litúrgicas: a glória de Deus e a santificação dos fiéis. (CIC, 1993, n° 1157, p. 325). 1.1.3 Os egípcios A civilização egípcia é uma das mais antigas do mundo (3200 a.C.). Assim como para os hebreus, os egípcios também tinham na música um dos elementos principais em seus rituais religiosos. Segundo Montanari (1988, p. 11) a música era “elemento obrigatório em cerimônias religiosas, festas e comemorações nacionais”. Foram os egípcios os primeiros a utilizar o mais natural dos instrumentos: a mão. Este fato pode ser observado nas gravuras murais deixadas em suas antigas construções como, por exemplo, as pirâmides. (MONTANARI, 1988, p. 11). 1.1.4 Os Gregos e sua contribuição mítica A Grécia é o berço da civilização e da cultura ocidental. Segundo Montanari (1988, p. 15) “Os gregos deram duas grandes e distintas contribuição à história da música: uma delas tem um conteúdo místico, enquanto a outra tem fundamento altamente racional”. Os gregos utilizavam-se dos mitos para explicar os acontecimentos da humanidade e da natureza. A palavra música, de origem grega, tem seu significado neste contexto mítico helênico, pois música significa a arte das musas (MONTANARI, 1988).
Podemos observar que a musa Euterpe era considerada como a musa da poesia lírica e da música, desta forma, podemos supor que para os gregos a música e a poesia também andam juntas, são irmãs siamesas. Como na Grécia tudo era explicado por meio dos mitos, a origem dos instrumentos musicais também assim era explicada. Segundo Montanari (1988, p. 16);
Os gregos também conheciam instrumentos como: tambor, tímpano, sistro e triangulo. Pitágoras desenvolveu a lira de oito cordas e descobriu a relação matemática dos harmônicos, dedução essa que ainda hoje é base dos instrumentos modernos de corda como o violão, piano, violino, entre outros (MONTANARI, 1988). De acordo com Montanari (1988, p. 17) “A música na Grécia estava presente em todas as manifestações do povo [...]. Era considerada fundamental na educação dos jovens”. Do grego também herdamos a palavra orquestra, de orkestiké, que era o local onde se realizavam as danças e apresentação dos corais no teatro grego. Quando em Veneza, foi inaugurado o teatro São Cassiano, os Venezianos denominaram de Orquestra o local reservado para os músicos (MONTANARI, 1988). Segundo Montanari (1988, p. 18);
1.2 Poesia Segundo o Dicionário eletrônico Houaiss (2006) poesia é;
Ao falar de poesia como arte de compor versos , podemos supor que qualquer seqüência ritmada e, especialmente rimada, seja poesia.
Mas ao dizermos que poesia é composição em versos (livres e/ou providos de rima) cujo conteúdo apresenta uma visão emocional e/ou conceitual na abordagem de idéias, estados de alma, sentimentos, impressões subjetivas etc., quase sempre expressos por associações imagéticas e composição poética de pequena extensão já não podemos associar ao versinho infantil acima citado, pois pressupõe-se que seja algo mais elaborado e pensado para que produza no leitor o efeito desejado pelo poeta. Para que as imagens sejam criadas e sentimentos sejam produzidos, o poeta realiza um trabalho árduo em busca da linguagem perfeita.
Segundo BARTHES (2002, p. 11) “Todo escritor dirá então: louco não posso, são não me digno, neurótico sou.” A busca do escritor/poeta pela palavra, a frase perfeita que será capaz de produzir no leitor a fruição o prazer da leitura, torna-se como uma neurose em busca da linguagem perfeita. Aos escritores BARTHES (2002, p. 11) adverte;
Quando tratamos de poesia como arte dos versos característica de um poeta, de um povo, de uma época , logo podemos fazer associação à poesia de Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, entre outros tantos poetas que lemos, também podemos falar da poesia trovadoresca, clássica, moderna, romântica e assim por diante, pois representam a poesia de um povo em uma determinada época. A poesia também pode ser tratada como a arte de excitar a alma com uma visão do mundo, por meio das melhores palavras em sua melhor ordem, poder criativo; inspiração, o que desperta o sentimento do belo, aquilo que há de elevado ou comovente nas pessoas ou nas coisas. Para Paul Verlaine , a poesia vai além de tudo isso que foi mencionado no dicionário, pois para ele a poesia deve ser antes de tudo música. Em Arte Poética, Verlaine escreve a Charles Morice uma espécie de definição de como deve ser a poesia;
Os versos acima podem ser resumidos em um canto à procura do Belo, escondido por vezes na sutileza do matiz, por exemplo, em oposição à definição da cor. Em resumo, poesia e música se ligam pela idéia de sugestão. 1.2.1 Tipos de Poesia Há três tipos de poesias; lírica, narrativa e dramática. A poesia Lírica, em geral, é de curta extensão, com ou sem rimas, possui grande musicalidade obtida através de suas rimas e ritmo. Segundo D’Onófrio (1995, p. 56);
A poesia lírica pode ser classificada em Balada, canção, elegia, hino, idílio, ode e soneto. A poesia Narrativa é de grande extensão, podemos tomar como exemplo de poesia narrativa os clássicos Homéricos A Ilíada, A Odisséia e Os Lusíadas, de Camões.
A poesia Dramática, assim como a Narrativa, tem uma extensão considerável, mas se diferencia devido à história ser contada por meio de falas de seus personagens. As tragédias e as comédias Gregas, as peças de Shakespeare e o “O auto da Compadecida” de Ariano Suassuna, são bons exemplos de poesias dramáticas.
1.2.2 Poesia para Vinícius de Moraes Vinícius de Moraes, além de poesia, escrevia crônicas para jornais e revistas. Em seu livro Para viver um grande amor , ele faz uma coletânea de suas crônicas mesclando-as com poemas. Em uma de suas crônicas Sobre poesia Vinícius de Moraes define o que para ele é poesia;
Transcrevendo a reflexão de Vinícius, conforme o sugerido por ele mesmo, pode-se dizer então que; o poeta parte de um monte de palavras sem significação especial senão serem palavras, que sob a orientação, construção, cálculos e projeto do poeta, torna-se poesia. Um monte de palavras é um monte de palavras. Não existe beleza específica. Mas uma poesia pode ser bela se o poeta der um bom acabamento. 2 VINÍCIUS DE MORAES EM TRÂNSITO ESTÉTICO Neste capítulo veremos o que é poesia para Vinícius de Moraes analisando por meio da história da literatura, quais foram as retomadas de características históricas utilizadas por Vinícius de Moraes. 2.1 Trovadorismo Na história da literatura (portuguesa-brasileira) a primeira escola que aparece é o Trovadorismo, com suas cantigas de amor, cantigas de amigo, cantigas de escárnio e de maldizer. Vinícius toma para si o papel de trovador, aquele que é ao mesmo tempo poeta e músico, que canta e recita seus poemas que são feitos para a mulher idealizada e inacessível.
2.2 Humanismo No Humanismo podemos encontrar o teatro de Gil Vicente, as novelas de cavalaria e as poesias palacianas, essas, ao contrário da poesia trovadoresca, eram elaboradas para serem recitadas nas cortes.
Vinícius de Moraes, Assim como no humanismo, rebusca os autores greco-latinos. Em forma de teatro, ele re-conta o Mito de Orfeu com a peça Orfeu da Conceição: Tragédia carioca.
2.3 Classicismo Dentre as características Clássicas, estão a inversão dos termos da oração; a preocupação com a forma, métrica, rima, correção gramatical; clareza na expressão do pensamento (MAIA, 2003, p. 143). Segundo Maia (2003, p. 143);
Tais características estão presentes na obra de Vinícius de Moraes e podemos percebê-las em seus sonetos. Para exemplificar, temos como exemplo o Soneto de Contrição:
2.4 Barroco Do Barroco Vinícius de Moraes buscou características tais como: “Culto do contraste. [...] consciência da transitoriedade da vida. [...] Cultismo” (MAIA, 2003, p. 166).
Podemos perceber o contraste no poema quando se coloca palavras semanticamente opostas, como em; fogo X frio, nervos de nylon X músculos duros, sangue incolor X estima dos martírios. A consciência da transitoriedade da vida pode ser compreendida nos versos;
Na mitologia grega, no caminho para a cidade de Tebas, havia uma Esfinge. Para passar pelo caminho era necessário que se decifrasse o enigma da Esfinge, era uma questão de vida ou morte, quem não conseguisse decifrar, era devorado pela Esfinge. O cultismo, que nada mais é do que o jogo de palavras e o estilo trabalhado, pode ser observado nos versos a seguir:
2.5 Arcadismo O Arcadismo foi uma escola literária também conhecida como Neo-clássica, pois retomava os ideais do classicismo. As características do Arcadismo que podemos encontrar em Vinícius de Moraes são: ● Imitação: [...] retorno aos modelos clássicos renascentistas.
Assim como no Arcadismo havia a idealização do amor e da mulher e em Vinícius esta também é uma temática marcante, corre-se o risco de pensar que seria também esta uma característica Árcade presente na obra de Vinícius de Moraes, mas no Arcadismo esta idealização do amor e da mulher eram tidos como “fonte de prazer, tranqüilo e não-passional” (MAIA, 2003, p. 186), enquanto que em Vinícius o amor é passional, melancólico e ás vezes até levado ao extremo de morrer por amor ou morrer de amor.
2.6 Romantismo Para Vinícius de Moraes, o Romantismo foi a estética literária que mais o influenciou, em especial a segunda geração romântica, também conhecida como ultra-romântica. O Romantismo traz como uma de suas características uma linguagem caracterizada:
Vinícius de Moraes imprimiu em sua obra tais características românticas, em especial as chamadas de características ultra-românticas (que foi a causa do, que posteriormente, foi chamado Mal do Século). Tais características são:
Em Soneto da hora final, podemos perceber o exagero, que leva ao extremo, é a mulher ideal que vive com seu amado até a morte, morrendo os dois, de amor e por amor. Já em Um beijo, percebemos que para o eu-lírico não importa o que aconteça em sua volta, por mais catastrófico que seja, pois para ele, o que vale é aquele minuto, aquele beijo. 2.7 Realismo Realidade contemporânea, denúncia das injustiças sociais, linguagem próxima à realidade e preocupação formal (MAIA, 2003), estas são características do realismo presentes em Vinícius de Moraes. Podemos observar esta preocupação com as injustiças sociais na música A Rosa de Hiroxima, composta por Vinícius de Moraes em parceria com Chico Buarque de Holanda.
2.8 Parnasianismo Vinícius buscou no Parnasianismo característica como “Visão carnal da mulher [...] procura da rima rica [...] retorno aos módulos clássicos greco-latinos e alusão à mitologia [...] procura da palavra perfeita (mot juste) [...] predileção pelo soneto” (MAIA, 2003, p. 311).
Neste soneto, podemos perceber que a mulher é vista de uma forma bem carnal, pois ela não é “aquela que eu buscava”. Quanto às rimas (ABBA, BABA, CDC, EDE), são chamadas de rimas ricas, pois são rimas “que se dá quando a homofonia se estende até a consoante de apoio da última vogal tônica” (D'ONOFRIO, 2005, p. 15). Vinícius cultivava uma predileção pelos sonetos, assim como os parnasianos. Segundo Paulo Mendes Campos (apud COUTINHO, 1986, p. 750);
Mas Vinícius de Moraes, no entanto, não despreza o soneto nem o trata com indiferença, mas pelo contrário, segundo COUTINHO (1986, p. 751) “Numa época em que este relegado à mediocridade das antologias escolares, Vinícius de Moraes publicou no seu primeiro livro os sonetos “Revolta”, com acentos românticos e um penúltimo verso apreciável ”. 2.9 Simbolismo Talvez seja da estética Simbolista, que Vinícius tenha buscado a sua segunda maior inspiração poética. A escola Simbolista é conhecida pela expressão indireta de idéias e emoções, pela sonoridade expressiva e musicalidade, por um grande subjetivismo, misticismos e espiritualismo, e também pela abstração e preocupação com a forma.
O efeito de musicalidade produzido pelo poeta no poema é produzido pela escolha lexical. “A insistência dos simbolistas sobre a hesitação entre o som e o sentido na produção poética, resumida pela frase de Verlaine, ‘de la musique avant toute chose’, traduz-se principalmente na exploração de estruturas fonêmicas e tonais” (OLIVEIRA, 2003, p. 21). 2.10 Por que Vinícius de Moraes é Modernista? Ao decorrer deste capítulo, percorremos as estéticas literárias apontando em cada uma delas o porquê Vinícius pode ser considerado como um poeta que transitou pelas diversas estéticas, retirando delas apenas o que ele considerava o melhor e transformando, reinventando em sua própria poesia.
Vinícius de Moraes pode ser considerado Modernista, não por ter pertencido à estética literária do Modernismo, e sim por ser um poeta moderno, que sabe aproveitar o que há de melhor em cada uma das estéticas passadas e recriar, imprimindo assim, suas características e emoções em sua obra.
A aliteração e a assonância provocam na música um ar de sensualidade, mas ao mesmo tempo uma tensão. No 1° e no 2° Verso o eu-lírico manda um recado cujo intermediário é a tristeza, vai lá e fala pra ela que eu não sou nada sem ela. Do 3° ao 5° verso é como se o eu-lírico pedisse a tristeza que se ajoelhasse diante do objeto amado assim como se ajoelha para rezar, roga-lhe, pede pra que ela volte, eu não posso mais sofrer. O amante que perde a amada, assim é o poeta que perde sua poesia. O amante não vive sem sua amada, assim como o poeta não vive sem sua poesia. No 6° verso o eu-lírico dá um Basta, chega eu não quero mais viver de saudade. Do 7° ao 12° verso é como se o eu-lírico caísse em si, e voltasse pra realidade, e esta realidade é que faz com que o amante não viva sem o objeto amado e que o poeta não viva sem a poesia, pois um longe do outro é só tristeza e melancolia. O poeta não existe sem a poesia e segundo Freud (1996, p. 251) “a melancolia é a reação à perda do objeto amado”. Do verso 19 ao 22, dá-se a impressão de que o eu-lírico faz promessas que se assemelham as promessas feitas pelos amantes quando querem a volta de sua amada. O poeta promete tratar bem sua poesia, se ela voltar. Do verso 23 até o final é como se o eu-lírico fizesse um pedido e uma constatação deixa pra lá, eu não vivo sem você, mas também sei que você não vive sem mim. O poeta não vive sem a poesia, assim como a poesia não existe sem o poeta. 3 O TEMA DA MELANCOLIA EM VINÍCIUS DE MORAES Neste capítulo trabalharemos a relação do poeta com algumas das tendências verificadas no movimento do Romantismo, como por exemplo, a questão da melancolia, da subjetividade e da idealização da mulher amada. Mas, o que é romantismo? Segundo Löwy;
O Romantismo, como movimento literário, teve início por volta de 1836 e terminou em 1881. Historicamente, podemos dizer que, por ser um movimento literário que tinha uma visão subjetivista do mundo, dado o momento histórico de independências e surgimento das nações européias, deu lugar ao realismo, com sua visão do mundo como ele é, sem floreamentos, mostrando as misérias do ser humano e da sociedade em que ele vive.
No Romantismo, é dada uma grande importância ao eu, devido ao subjetivismo e ao antropocentrismo, visando sempre à satisfação dos desejos do eu, mesmo que essa satisfação se dê apenas subjetivamente por meio da pena e da mão que escrevem o poema, exteriorizando assim, os seus desejos e sonhos mais secretos. No Romantismo, o amor, a mulher, a pátria são idealizados e o idealizador vive sempre buscando conquistar o idealizado, que parece ser inconquistável.
Mas, o Romantismo não teve um tempo limite. Assim como as outras escolas literárias, as datas fixadas são apenas referenciais, pois, podemos observar características Românticas nas novelas de cavalaria e também na atualidade em músicas e poemas, que são tidos como ultra-românticos, ou, podemos chamar de neo-românticos. Mas, qual é o conceito de romantismo na atualidade?
“A visão romântica instalou-se, portanto na segunda metade do século XVIII e ainda não, desapareceu” (LÖWY, 1995, p. 34). Com o advento da Psicanálise a melancolia pode ser entendida não apenas como estado de espírito ocasional, mas como índice da complicada relação entre sujeito e objeto desejado. Para Freud (1996, p. 251)
Esta definição de Freud pode ser associada à relação Poeta-poesia. A poesia faz parte do poeta, e o sentimento de perda do poeta gera a melancolia poética. O poeta é aquele que possui a poesia somente enquanto esta está dentro dele, a partir do momento em que o poeta escreve a poesia já não mais pertence a ele e sim ao papel e ao leitor. Esta perda da poesia pelo poeta gera a melancolia, pois o objeto de amor do poeta, sua poesia, não morreu realmente, mas foi perdido pelo poeta. No âmbito artístico, Blanchot (1987), ao escrever sobre essa relação Poeta-poesia, posiciona o olhar de Orfeu, que é como o olhar do autor, que ao terminar a sua obra, ao mesmo tempo em que a contempla, ele lembra-se de todo o processo de concepção e construção da mesma, daí ele toma consciência de que está perdendo sua obra:
O sentimento gerado no autor pela consciência de perda é solitário, doloroso e melancólico, pois durante o processo de concepção da obra, o autor convive com a obra, os personagens fazem parte do seu dia-a-dia e ao terminá-la é como se ele tivesse morrido com a dor causada pela separação e também neste momento há a morte e o renascimento da obra. A cada leitor que a lê, ela renasce e novos significados lhe são atribuídos. “O escrito é então aquele que escreve para morrer e é aquele que recebe o seu poder de escrever de uma relação antecipada com a morte” (BLANCHOT, 1987, p. 90). O tema órfico foi amplamente trabalhado por Vinícius de Moraes. Um exemplo claro é a Valsa de Eurídice, que inscreve todo processo de criação do poeta e correlaciona também à temática daquele que canta em nome da melancolia da perda.
Podemos observar no poema, que, assim como no mito de Orfeu e Eurídice, Orfeu perde sua amada devido a saudade e a falta que sentia dos olhos da amada, o poeta também perde sua poesia no momento em que a olha, no momento em que a contempla. No poema Valsa de Eurídice, a musicalidade e a sonoridade intensa presente no poema, a cada verso faz um movimeto em espirais, indo e vindo, mas ao mesmo tempo escapando de nós. Esta perda do objeto amado, seja Eurídice, seja a poesia, provoca a melancolia, pois “Amar é sempre amar alguém, ter alguém diante de nós, olhar somente para ele e não para além dele, [...] o amor, em última instância, nos desvia, mais do que nos faz voltar sobre os nossos passos” (BLANCHOT, 1987, p. 137). Deste modo, amar é nunca desviar o olhar do objeto deste amor, mesmo correndo o risco de perdê-lo. De acordo com Blanchot (1987, p. 140);
Vinícius de Moraes, em seu processo de composição, parece ser consciente deste espaço, onde tudo morre, sabe que sua poesia não lhe pertence, mas pertence àquele que o lê no momento em que a leitura é realizada. A obra é a origem, nela tudo se inicia e tudo se finda.
Ciente de que o poema não lhe pertence, o poeta faz recomendações do tipo cuidado com o resfriado, não beba demais, etc. O poema nasceu do poeta, é obra do poeta, e como pai-criador do poema, o poeta vive seu amor e sua agonia em sua certeza de não-posse sobre sua criação. 4 O ÚLTIMO ROMÂNTICO Este capítulo tem por objetivo mostrar ao leitor análises de poemas e canções de Vinícius de Moraes, apontando características que revelam algumas faces do poeta, principalmente aquelas já explicadas neste trabalho pela linha teórica pela qual optamos. Vinícius de Moraes definiu o ser poeta com sua poesia, [...] promoveu no meio artístico brasileiro uma retomada da subjetividade humana apelativa das emoções, [...] estruturou uma nova estética na produção da obra de arte, [...] é uma estética de si que traz a representatividade da sua forma de viver e pensar sobre a vida encharcada de paixão e melancolia. (MANHÃES, 2005, p. 1). Há na poesia de Vinícius uma equação de extremos: AMOR = DOR
Assim como o amor não existe sem a dor, a poesia também não existe sem a morte. Há uma certeza poética de uma seqüência lógica, em que o amor provoca o choro e o sofrimento. É como algo pré-determinado, em que o eu-lírico sabe quais são as conseqüências de amar, mas sabe também, que ele está pré-destinado a amar. No Sinto-me só como um seixo de praia é como uma auto-definição do ser poeta em Vinícius de Moraes. Neste soneto Vinícius de Moraes define o que é ser poeta, o que é poesia e de onde vem sua poesia. É a pré-destinação do poeta, que ama sua poesia, mesmo sabendo que vai perdê-la, nisso podemos notar a nostalgia e a melancolia antecipada pelo pré-sentimento de perda do objeto amado.
Seixo é um fragmento de rocha, é o cascalho que podemos encontrar na praia. Sentir-se só como o cascalho na praia à primeira vista parece irônico, pois na praia há muitas pedras, mas, no entanto, o poeta não se compara com cascalho, e sim apenas uma pedrinha, que pode estar cercada por várias outras, mas que se sente só, talvez por ser única, diferente, quem sabe?
O poeta sempre está em busca da sua poesia e perfeição de seus versos. Vinícius, inspirado em Camões, tem paixão por rimas e versos perfeitos, com sonoridade, e musicalidade. Segundo o dicionário Houaiss (2006) uma das definições para cristal é “transparência, limpidez, sonoridade clara, cristalina”. Podemos dizer, então, que o poeta vive em busca da transparência de seu poema e da sonoridade na sua poesia. Outra interpretação possível, a este verso é a relação que há entre cristal das ondas e a gíria muito utilizada, principalmente por surfistas, crista da onda. Estar na crista da onda, é estar no topo da onda, que também pode ser estar em uma posição de destaque na vida social, profissional ou política. Então, o que seria para Vinícius de Moraes Vivendo à busca no cristal das ondas? Uma leitura possível para cristal das ondas ou crista das ondas seria trocar cristal das ondas pelos movimentos literários, que, assim como uma onda têm altos e baixos, é como se Vinícius vivesse buscando o melhor, o brilho do cristal, na crista das ondas literárias, ou seja, como se o poeta vivesse em busca daquilo que cada movimento literário ofereceu de melhor, como se tomasse para ele somente o que está no topo para compor sua própria obra.
Muito se diz a respeito do que Vinícius de Moraes é. Como poeta, ele é colocado na escola Modernista, mas será que Vinícius de Moraes é um poeta exclusivamente Modernista? Em seus poemas e em sua vida, podemos encontrar características do ultra-romantismo, tais como o pessimismo, sentimento de inadequação à realidade, ócio, desgosto de viver, apego a bebida, ao vício, atração pela noite e pela morte, subjetivismo, egocentrismo e sentimentalismo. Somado a essas características ultra-românticas, também podemos encontrar características simbolistas nas expressões indiretas de suas idéias e de suas emoções, na sonoridade e na musicalidade de seus poemas, no subjetivismo, misticismo e espiritualismo. No Soneto ao caju, podemos encontrar algumas dessas características ultra-românticas e simbolistas somadas a um erotismo Viniciano.
Ao percebermos que Vinícius não é exclusivamente modernista, podemos considerar que ao escrever não sei se sou o que não sou. talvez ele queira revelar, não sei se sou modernista ou se sou a junção das escolas passadas, pois busco no cristal das ondas, o que há de melhor em cada uma delas.
Ao colocar esta palavra isolada logo após um ponto final, que declara uma dúvida do poeta, é como se colocasse uma definição para que tipo de poeta realmente ele é. Pressinto = pré-sentir. O sentimento vem antes de tudo em seu poema, antes da inspiração vem a emoção.
Ao lermos este verso, temos duas imagens que se forma em nossa mente. A primeira da maré em uma praia e seu movimento inconstante e a segunda exige um pouco de atenção à sonoridade presente no verso. Devemos ler atenciosamente cada palavra e depois ler novamente em um ritmo acelerado para que percebamos a diferença sonora que se provoca. Podemos perceber que o verso muda de sentido, pois se transforma de que a maré vai morar no fundo d’alma para que amar é vai morar no fundo d’alma. É como se o poeta quisesse brincar com o leitor fazendo esse jogo de palavras e sons. No fundo d’alma reside a essência da vida poética de Vinícius o amor. Em que amar é, deste modo é como se o poeta definisse o amor, pois amar é e isso basta. O amor se define em ser, e se ele é, ele existe e reside no fundo d’alma.
Ao perceber o poema, o poeta se cala. Este calar pode ser um calar para poder melhor escutar, se colocar a disposição e a recepção daquele que lhe fala ao pé do ouvido, ou seja, a inspiração poética. A sensualidade causada pela repetição do fonema S, neste verso, pode revelar esta relação sensual, atrativa que há entre poeta e poesia. Afinal, é o poeta que atrai a poesia ou a poesia que atrai o poeta? No caso de Vinícius, ele deixa transparecer, neste verso, que ele é atraído pela poesia e que ao senti-la, ao escutá-la ele se cala, como que num ato de vislumbre e contemplação àquela que é sua razão de ser poeta.
Marulho é o barulho das ondas do mar. Assim como o barulho provocado pelas ondas do mar em seu movimento de “indo e vindo infinito” , o movimento da inspiração poética que vai e volta, deixa no poeta a incerteza e a agonia pela sua ausência, e ao mesmo tempo, agonia e incerteza de sua volta.
Entenda traços como poema, e tenha aí uma confissão do poeta. Ele confessa que escreve sobre o que acredita. Se Vinícius escreve sobre amor, é porque acredita no amor, talvez seja por acreditar tanto no amor que tenha passado sua vida toda em busca do grande amor, do amor perfeito. Portanto, ao fechar o segundo quarteto, temos o seguinte processo de composição:
Ao tomarmos Vinícius como um poeta clássico, no sentido de que ele gosta da forma clássica do soneto, versos decassílabos, redondilhas, etc., podemos ler a palavra estátua como uma referência à Grécia, berço da cultura e da literatura ocidental. Nisto, também, podemos observar que Vinícius é um poeta anacrônico, ou seja, fora de seu tempo, ele está no tempo do modernismo e utiliza recursos de outros movimentos literários, no entanto, utiliza-se de outros temas, ou até mesmo a mesma temática, com uma linguagem diferente. Na atualidade podemos encontrar tais características no poeta Paulo Henriques Britto, que também é considerado um poeta anacrônico. Britto em uma entrevista concedida ao também poeta Pedro Sette Câmara (2007, p. 5), afirma:
Um exemplo desta prática de Britto, é o soneto a seguir:
Podemos observar neste soneto de Britto, que o ritmo é de prosa e não de poema, no entanto a forma é soneto, e aparentemente possui rimas no final de cada verso (ABBC, CBBC, DEF, DEF). Britto brinca com a forma fixa, usando-se dela para definir o que é o poema moderno. A forma fixa é uma característica dos poemas clássicos, e esse é um dos motivos que faz com que Britto seja considerado um poeta anacrônico, pois ele busca no passado a forma fixa, porém seu soneto é em ritmo prosaico, é moderno. Da mesma forma podemos observar neste soneto de Vinícius Sinto-me só como um seixo de praia, que mesmo utilizando-se de uma forma clássica, como o soneto e a forma fixa, não há nele rimas como nos poemas clássicos tradicionais, de certo modo isso caracteriza o poema moderno de Vinícius de Moraes e Paulo Henriques Britto, que retomam algo do passado e reinventam novos olhares sobre o passado, tornando o poema novo e moderno.
O ato de declinar-se infere a idéia de desviar-se ou afastar-se do objetivo. No poema o eu-lírico diz, se declinar sobre as frases dos rochedos. Na literatura, os parnasianos são considerados como rochedos, em função de objetivarem uma certa distância em relação a sentimentos, os parnasianos quebraram com os padrões do romantismo, no sentido de trocar a subjetividade pela impessoalidade, pelo culto à forma, a arte pela arte. É nesse sentido que podemos pensar que Vinícius admira a arte parnasiana e declina-se sobre os rochedos parnasianos. Vinícius, assim como os parnasianos, é adepto dos sonetos, das formas fixas, da forma, mas, no entanto, Vinícius desvia-se e afasta-se dos parnasianos pelo fato de que em Vinícius a arte é a expressão de sua vida, seus amores e suas dores são expressos em seus poemas e suas músicas.
A pérola surge depois de um processo doloroso, em que a ostra tenta expulsar qualquer corpo estranho que invade seu organismo. Segundo o dicionário on-line Michaellis (2008) , pérola também pode significar Gota límpida, lágrima ou até mesmo erro ou distração de autores em seus textos. Quando se diz Nas pérolas de som do inesquecer, podemos pensar na limpidez dos versos ou até mesmo em algum erro ou distração do poeta que torna-se inesquecível, talvez por ter provocado lágrimas carregadas de emoções no leitor. Segundo Zampronha (1996, p. 69) “A melodia é a essência da música [...]. Ela provém da palavra, seu ponto de apoio é o acento, sua cena primária é a escala e é na intensidade mesmo que reside o seu espírito”. Cada poema tem seu próprio ritmo e melodia, o som produzido pelo poema é como pérola preciosa, torna-se inesquecível, primeiro para o poeta depois para o leitor, que ao entrar em contado com o poema toma para si as palavras do autor, desta forma tomando para si a preciosidade desta pérola, que é o próprio poema.
Ao pensarmos em montanha, logo imaginamos sua altura, mas toda montanha tem uma base larga e sólida, onde se fixa. Ao colocarmos esta montanha num poema como este, de Vinícius, podemos dizer que esta montanha é a base histórica dos movimentos das escolas literárias, onde Vinícius se fixa como uma árvore que nasce no topo desta montanha, absorvendo pelas raízes tudo que esta montanha adulta pode lhe oferecer de bom. Deste modo, Vinícius de Moraes faz um resgate do passado, ceifando das escolas literárias aquilo que para ele é o essencial. De cada escola, Vinícius, ceifa a vida, o amor, a forma poética, a musicalidade, a espiritualidade, a subjetividade, a essência da vida poética e do poetar de Vinícius.
Ao se curvar ao peso da memória, reconhece a importância das escolas passadas, dando a elas o devido valor e importância, pois fizeram parte da evolução da literatura. Vinícius reconhece o valor e a importância do passado, porém ele não é saudosista ao ponto de querer viver do passado, apenas reconhece este passado e sua real importância. Podemos dizer que, Vinícius, vai um pouco além do reconhecimento, ele consegue retirar de cada uma delas o que há de melhor.
Vinícius de Moraes sabe e reconhece que na sua obra há muita influência do passado, mas ele vai além, pois admiti deixar-se influenciar por este passado, mas também re-inventa o que já passou, dando novos olhares, novas formas de se fazer poesia.
Soneto (2 estrofes com 4 versos e 2 estrofes com 3 versos), é a forma predileta de Vinícius. No classicismo, no romantismo, no simbolismo, no parnasianismo, os sonetos eram muito utilizados, porém além da forma fixa, os poetas também utilizavam o recurso das rimas, conferindo ao poema ritmo e sonoridade. No poema sinto-me só como um seixo de praia, Vinícius faz algo incomum, pois este é um soneto em que não há rima, mas há musicalidade e sonoridade. Podemos pensar que ao colocar espumas inexatas, o poeta refere-se ao livro de Castro Alves Espumas Flutuantes . Abaixo o poema Os três amores de Castro Alves, ilustra o que podemos perceber ao decorrer de todo o livro, poemas cheios de rimas, ritmos e musicalidade.
Enfim, pudemos perceber no decorrer deste capítulo a grandiosidade da poesia de Vinícius de Moraes e como sua obra deve ser lida. Pudemos perceber que Vinícius não é um poetinha e sim um grande poeta que sabe buscar no cristal das ondas literárias o que ele enxergava de melhor e, a partir disto, compor sua obra. O poema Sinto-me só como um seixo de praia foi escolhido para a análise neste capítulo, por parecer expressar toda a poética de Vinícius de Moraes, poeta moderno, que podemos ousadamente chamar de o último Romântico, poeta anacrônico, só, fora de seu tempo, mas consciente de seu estado. CONCLUSÃO
Ao encerrar o presente trabalho, podemos chegar à conclusão de que a obra de Vinícius de Moraes é pouco explorada pelos estudiosos, no sentido de estudos com rigor metodológicos. Ao leitor e ao crítico que buscam em Vinícius de Moraes um poetinha que escreve apenas poeminhas de prazer, deve-se estar ciente de que ao analisar a obra deste grande poeta poderão assustar-se ao deparar com poemas de fruição e não apenas de prazer. Ao leitor que procura na obra de Vinícius algo que vai além da beleza, no sentido de poema bonito ou música bonita, há uma beleza estética que faz da obra de Vinícius ser uma busca intensa pela fruição do texto, pois o poeta busca a origem de seu poema que está encerrada no próprio poema. O poeta que perde seu poema vive em busca daquele que é a razão de seu ser poeta, sua poesia, pois a arte é “o caminho para si mesmo” (BLANCHOT, 1987, p. 155). A tradução Bíblica que será utilizada neste trabalho será a Bíblia Ave-Maria, que é uma tradução dos originais Hebraico e Grego, feita pelos monges de Maredsous (Bélgica). CASTRO, J. J. P. de. (Frei, O.F.M.) Bíblia Sagrada: Ave-Maria. 25. ed. São Paulo: Ave-Maria, 2000. HOUAIS, 2006. REFERÊNCIAS ABDALA JUNIOR, B.; CAMPEDELLI, S. Y. Tempos da literatura brasileira. São Paulo: Círculo do livro, 1987. BARTHES, R.; GUINSBURG. J. O prazer do texto. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2002. BIOGRAFIA:
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O que quer dizer o seguinte verso da canção?Verso: é cada linha do poema/música. Estrofe: é um conjunto de versos. Rimas: são sons semelhantes no final ou no interior dos versos.
Como você interpreta os versos fazendo da memória um balde cego?[Resposta pessoal] Interpreto esses versos como uma espécie de metáfora com o funcionamento da memória, que não pode ser controlada. Ela simplesmente se vai, assim como um balde no negrume de um poço.
Como você interpreta o hipérbole nesse verso?A hipérbole nesse poema se refere a ênfase com exagero na altura da namorada. O próprio título do poema é sugestivo a altura da menina, levando a crer que ela é tão alta que alcança a galáxia de Orion.
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