O que pretendiam os artistas que idealizaram a Semana de Arte Moderna de?

adrielyberto56 Seu objetivo era renovar o ambiente artístico e cultural da cidade com "a perfeita demonstração do que há em nosso meio em escultura, arquitetura, música e literatura sob o ponto de vista rigorosamente atual", como informava o Correio Paulistano, órgão do partido governista paulista, em 29 de janeiro de 1922.

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O que pretendiam os artistas que idealizaram a Semana de Arte Moderna de?

Cartaz da Semana de Arte Monderna de 1922 (Foto: Reprodução)

Era 13 de fevereiro de 1922 quando o Theatro Municipal de São Paulo registrou casa cheia. Inaugurado havia pouco mais de uma década, o local recebeu naquele dia o governador do estado, o prefeito da cidade, jornalistas, estudantes, fazendeiros, industriais, comerciantes e, claro, artistas. A ocasião entraria para a história: estava começando a Semana de Arte Moderna de 22, que prometia renovar o ambiente artístico do país.

Atualmente considerado um dos principais marcos da cultura brasileira, o evento foi financiado pela aristocracia — na época, representada sobretudo pela figura do fazendeiro, empresário e mecenas Paulo Prado. Foi ele quem definiu o líder do movimento: Graça Aranha. Coube ao escritor e membro fundador da Academia Brasileira de Letras mostrar ao público que a bandeira do festival era a liberdade — criativa, de expressão, dos padrões eurocêntricos e do conservadorismo então vigente.

A missão dos modernistas consistia em abandonar o academicismo. Nas palavras de Aranha, o estilo acadêmico era “um grande mal na renovação estética do Brasil” que sufocava a originalidade dos artistas e tornava tudo “medíocre e triste”. Em vez disso, era o subjetivismo que deveria direcionar os trabalhos artísticos. Desejava-se que cada um fosse livre para criar suas obras sem se ater a regras.

“Da libertação do nosso espírito sairá a arte vitoriosa. E os primeiros anúncios da nossa esperança são os que oferecemos aqui à vossa curiosidade. São estas pinturas extravagantes, estas esculturas absurdas, esta música alucinada, esta poesia aérea e desarticulada”, declarou Aranha durante a abertura da Semana de 22, segundo conta o livro Mário de Andrade e a Semana de Arte Moderna, da coleção Modernismo — do surgimento no mundo à explosão do movimento no Brasil, publicada pela Faro Editorial em novembro de 2021. “O que hoje fixamos não é a renascença de uma arte que não existe. É o próprio comovente nascimento da arte no Brasil”, comemorou Graça Aranha.

"O que hoje fixamos não é a renascença de uma arte que não existe. É o próprio comovente nascimento da arte no Brasil"

Graça Aranha, escritor e líder da Semana de Arte de 1922

A exposição se estendeu por três dias: 13, 15 e 17 de fevereiro. O primeiro foi dedicado a pintura e escultura (carro-chefe do evento), o segundo à literatura e o último, à música. Elaborada por Mário de Andrade, Di Cavalcanti e Oswald de Andrade, a programação apresentou produções que não seguiam uma estética única. Em comum havia a proposta de usar elementos das vanguardas europeias no contexto brasileiro, construindo uma arte mais nacional.

O que pretendiam os artistas que idealizaram a Semana de Arte Moderna de?

A Semana de Arte de Moderna 1922 aconteceu nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro, em São Paulo (Foto: Reprodução)

Mas, assim como outros eventos artísticos, a Semana de 22 não foi bem-recebida pela sociedade naquele início de século. Antes dela, a Exposição de Pintura Moderna Anita Malfatti — a primeira a empregar o termo “moderno” no Brasil — havia sido rejeitada em 1917, antecipando o que estava por vir. A mostra continha 53 obras que, na concepção de Monteiro Lobato, teriam sido feitas por alguém que enxerga “anormalmente a natureza” e a interpreta “à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes”.

Já durante as apresentações de 1922, modernistas foram vaiados pelo público e incompreendidos pela imprensa. “Em música são ridículos, na poesia são malucos e na pintura são borradores de telas”, opinou o jornalista e crítico Oscar Guanabarino.

A despeito das críticas, o evento gerou frutos, como a união de artistas. “Mesmo que tenha sido muito mais um acontecimento local e efêmero, ele deixou uma marca que delimita a consolidação do modernismo no Brasil por meio dos vários grupos que foram criados nos anos seguintes”, observa Madalena Zaccara, professora na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e líder do grupo de pesquisa Arte, Cultura e Memória.

O que pretendiam os artistas que idealizaram a Semana de Arte Moderna de?

Mulheres foram protagonistas no modernismo. Da esquerda para a direita: Pagu, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Elsie Houston, Benjamin Péret e Eugênia Álvaro Moreyra. (Foto: Domínio público)

Ela destaca o Clube dos Artistas Modernos (CAM), criado em 1932 e liderado por Flávio de Carvalho, e a Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), que foi fundada em 1932 por Mário de Andrade e reuniu figuras como Sérgio Milliet, Anita Malfatti, Lasar Segall e Tarsila do Amaral. “Essas duas agremiações artísticas formadas na cidade de São Paulo expressam, antes de mais nada, o êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país ao longo da década de 1930”, analisa Zaccara, que também é vice-presidente da Associação Nacional dos Pesquisadores de Artes Plásticas (ANPAP).

"Mesmo que tenha sido muito mais um acontecimento local e efêmero, a Semana de Arte de 1922 (...) delimita a consolidação do modernismo no Brasil"

Madalena Zaccara, professora na UFPE e líder do grupo de pesquisa Arte, Cultura e Memória

Surgiram também periódicos importantes para a divulgação da arte. A Revista Klaxon, lançada três meses após a Semana de 22, foi batizada em homenagem a uma buzina de automóvel e pretendia reverberar os princípios modernistas, reforçando a importância do intercâmbio com ideias estrangeiras e da valorização dos elementos nacionais. Tida como audaciosa e criativa, a publicação exibia ilustrações de Victor Brecheret e Di Cavalcanti, poemas de Manuel Bandeira e artigos de Sérgio Buarque de Holanda.

Mais tarde, em 1928, Oswald de Andrade e Raul Bopp idealizaram a Revista de Antropofagia, inspirados pelo quadro Abaporu. O título da tela significa “antropófago” em tupi-guarani, assim remetendo ao propósito do antropofagismo de assimilar criticamente as vanguardas europeias e recriá-las a partir da cultura brasileira. Difundindo pensamentos combativos e posições radicais, o periódico se consolidou como um dos principais veículos modernistas.

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O Abaporu, obra mais conhecida de Tarsila, é o maior símbolo visual do Modernismo brasileiro (Foto: Wikimedia Commons)

Uma arte social

Décadas depois, a união entre artistas e a discussão sobre a arte nacional continuaram a se fortalecer, mas impulsionadas por novos meios: os museus. Isso porque eles permitiram a ampliação do acesso a exposições, experimentações e palestras. “É o que gera o 'caldo' para que a arte brasileira tanto absorva o que vem de outros países quanto experimente seus próprios elementos, assim se configurando em uma vanguarda brasileira que não é mais derivada das europeias como aconteceu na Semana de 22”, diz Paula Braga, professora na Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Paulo, e uma das autoras do livro Sobre a arte brasileira: da pré-história aos anos 1960 (Editora WMF Martins Fontes/Edições Sesc São Paulo).

A partir de 1960, grandes instituições — como o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e os Museus de Arte Moderna (MAM) de São Paulo e do Rio de Janeiro — passaram a fornecer respaldo para o desenvolvimento de uma linguagem vanguardista realmente brasileira. Tanto o MAM paulistano quanto o carioca promoviam, por exemplo, cursos e sessões de cinema que colocavam em pauta as tendências artísticas do momento.

Assim se formou um dos aspectos mais “nossos” da arte: o caráter participativo. A produção artística começou a ser considerada como uma ferramenta capaz de interferir na subjetividade do espectador. Uma vez em contato com a obra, ele seria impactado por ela e se tornaria um participante, não mais um mero contemplador. Tal postura ativa se faz presente na série Bichos, de Lygia Clark. Produzidas a partir de 1960, as estruturas metálicas se articulam entre si, exigindo a intervenção do público para adquirir diferentes configurações.

A produção daquela década chocou-se com as definições de lazer, trabalho e sexualidade, en- trando em confronto com os padrões da socie- dade. Em busca de mudar a visão do espectador diante do mundo, as obras tentavam apresentar novas perspectivas — antes escondidas, ignoradas e reprimidas. “Não se avalia mais a obra por questões de forma ou execução, mas pela potência de colocar como visível aquilo que não era visto”, afirma Paula Braga.

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Cosmococa, de Hélio Oiticica e Neville D’Almeida (Foto: Reprodução/Hélio Oiticica e Neville D’Almeida)

Com intuito de desafiar o que era concebido como aceitável na época, Hélio Oiticica e Neville D’Almeida criaram a obra Cosmococa, cuja ideia consistia em convidar o público a entrar em cinco salas diferentes e experienciar as sensações da cocaína — que era usada de forma recreativa e como pigmento — por meio da arte. Cada um dos espaços continha imagens, características físicas e sons específicos para transmitir solidão, euforia, angústia, pânico e relaxamento.

O fato dessa mentalidade ter florescido em meio à ditadura militar, que se instaurou no Brasil a partir de 1964, fomentou experiências que ultrapassaram as fronteiras das exposições. Se antes a ideia era abolir a passividade do espectador diante da obra e torná-lo um participante, o con- texto de autoritarismo fez com que os artistas estimulassem o engajamento na esfera social. “O clima político da época incentivou o público a olhar o mundo de um jeito diferente em todos os âmbitos: social, político e econômico”, diz Braga.

Um exemplo dessa politização é a obra Seja marginal seja herói, de Oiticica. A poesia-bandeira não apenas representa a transgressão de valores burgueses como carrega um recado claro: aquele que vive à margem, não envolvido pelos dogmas do centro, consegue enxergar (e compreender) melhor a própria sociedade. Elaborada em 1968, a pintura sobre tecido reproduz a foto do corpo de Alcir Figueira da Silva, um homem que se suicidou após assaltar um banco e ser alcançado pela polícia. “Que diabólica neurose o teria levado a preferir a morte à prisão?”, questionou Oiticica em texto apresentado naquele mesmo ano. Para ele, Alcir era um anti-herói que simbolizava o quanto a sociedade precisava de uma reforma completa.

O objetivo de grande parte dos artistas atuantes durante o regime militar, ressalta Zaccara, era utilizar as telas para evidenciar a realidade, denunciando a censura da ditadura. “Na década de 1970, essa luta multiplica-se em novas mídias e circulações e torna-se mais explícita, como na Inserção em circuitos ideológicos, ação na qual Cildo Meireles pergunta, usando dinheiro, quem matou [Vladimir] Herzog”, ilustra a vice-presidente da ANPAP.

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Seja marginal seja herói, de Hélio Oiticica (Foto: Reprodução/Hélio Oiticica)

Meireles pegava notas em circulação, carimbava a frase “Quem matou Herzog?” e as devolvia ao mercado. A estratégia, difícil de ser completamente controlada e censurada, atingiu um grande número de brasileiros — contribuindo não só para denunciar os abusos dos militares contra o jornalista, mas também para que mais pessoas tivessem contato com a arte.

Aonde chegamos?

De 1922 a 2022 muita coisa aconteceu. Os anos 1980 ficaram marcados por uma intensa experimentação com novos meios tecnológicos e comunicacionais, como o xerox, a holografia e a arte em vídeo. Na década seguinte, a arte brasileira ganhou maior reconhecimento internacional — algo que, até então, estava restrito a alguns grandes nomes, como Lygia Clark.

Mas uma característica se mantém até hoje: a vertente social das artes plásticas no Brasil, com intenção de formar um cidadão que entenda a complexidade do país e esteja atento aos contrastes e desigualdades da nossa realidade. “Temos produções que tentam fomentar um sentido de coletividade, como nos anos 1960”, constata Braga.

A proposta de muitos artistas atuais é revisar narrativas históricas e trazer à tona discussões que, por muito tempo, foram abafadas. É o caso da valorização das heranças indígenas e das questões étnico-raciais representadas na 34ª Bienal de São Paulo, que aconteceu entre 4 de setembro e 5 de dezembro de 2021. Nessa última edição do evento, nove artistas indígenas foram convidados — o maior número desde 1951, quando a Bienal foi inaugurada —, sendo cinco brasileiros: Daiara Tukano, Sueli Maxakali, Jaider Esbell, Uýra e Gustavo Caboco. “Isso evidencia que a história do nosso país precisa ser contada como sendo de opressão”, analisa a professora da UFABC.

Exemplares contemporâneos estão também na exposição Brasilidade Pós-Modernismo, que já passou pelo Rio de Janeiro (onde recebeu mais de 25 mil visitantes) e agora está no Centro Cultural do Banco do Brasil, em São Paulo, até 7 de março. A mostra contém trabalhos de 51 artistas feitos a partir de 1960 e divididos em seis núcleos temáticos: Liberdade, Futuro, Identidade, Natureza, Estética e Poesia. “A brasilidade se mostra diversificada e miscigenada, regional e cosmopolita, popular e erudita, folclórica e urbana”, analisa Tereza de Arruda, historiadora da arte e curadora.

"[Adriana Varejão] reproduz os azulejos portugueses, remetendo à colonização, mas rachados com craquelês, o que demonstra uma certa fragilidade"

Tereza de Arruda, historiadora da arte e curadora de Brasilidade Pós-Modernismo

Ela chama atenção para o segmento Liberdade, que abre a exposição. Nele, discutem-se inquietações derivadas do colonialismo no Brasil, além das consequências desse momento histórico para o contexto social, político e cultural do país — temas fortemente abordados na produção artística contemporânea. “Nessa parte temos, por exemplo, o trabalho da Adriana Varejão. Ela reproduz os azulejos portugueses, remetendo à colonização, mas rachados com craquelês, o que demonstra uma certa fragilidade e revela que as características impostas nesse período não poderiam ser tão duradouras”, diz Arruda.

A curadora destaca também a diversidade de linguagens, interlocutores e contextos por meio da qual a brasilidade se expressa, e o fato de que essa pluralidade carrega traços que ganharam os holofotes por aqui há cem anos. “A tendência atual é voltada para questões direcionadas ao cotidiano, com muitos aspectos já almejados na Semana de Arte de 22”, avalia.

O que pretendiam os artistas que idealizaram a Semana de Arte Moderna de?

Voluta e Cercadura, 2013, de Adriana Varejão (Foto: Jaime Acioli)

Entre as características buscadas naquele momento e presentes na contemporaneidade estão a autonomia das normas eurocêntricas, a liberdade artística e a valorização da cultura nacional — comprovando que, apesar das críticas recebidas em 1922, os modernistas seguem influenciando.

O que pretendiam os artistas que idealizaram a Semana de Arte Moderna de 1922 Qual foi a reação do público na Semana de 1922?

A Semana de 1922 surge deste contexto. As ideias buscavam se tornar livres dos padrões tradicionais vindos da Europa, buscavam construir uma identidade própria. Os artistas pretendiam fazer uma arte de caráter nacionalista e com maior liberdade de expressão.

O que pretendiam os artistas com a Semana 22?

Era o primeiro centenário da Independência e os jovens modernistas pretendiam redescobrir o Brasil, libertando-o das amarras que o prendiam aos padrões estrangeiros. Seria, então, um movimento pela independência artística do Brasil.

Qual foi o principal objetivo da Semana de Arte Moderna de 1922?

Sendo assim, o objetivo da Semana de Arte Moderna era inserir essas novas tendências de arte no cenário brasileiro, assim como romper com os modelos antigos. Para isso, o evento reuniu artistas de diferentes vertentes – desde a literatura até as artes plásticas – para apresentar suas obras.

Quais foram os artistas que idealizaram a Semana da Arte Moderna?

O Grupo dos Cinco foi o grupo de artistas que idealizou a Semana de Arte Moderna no Brasil, formado pelas pintoras Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, e pelos escritores Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade e Mário de Andrade. Nasceu em São Paulo em 1889. Foi pintora, desenhista e professora.