Qual a importância do treinamento físico e seus princípios de individualidade sobrecarga especificidade continuidade e reversibilidade?

Toda atividade necessita de regras para sua organização e na atividade física não é diferente, ainda mais quando trabalhamos de forma direcionada e com metas pré-estabelecidas.

Para tanto, temos os princípios do treinamento, princípios esses que norteiam qualquer programa ou atividade física, desde uma simples caminhada ou corrida até um treino de futebol, por exemplo. Seguir esses princípios é uma condição indispensável para que a atividade se torne proveitosa e saudável.

São cinco os princípios do treinamento, conforme veremos a seguir:

1º – Princípio da individualidade biológica:

É o princípio que estabelece que cada pessoa é um ser individualizado ou ainda, que não existem duas pessoas iguais. Em termos de condicionamento físico isso significa dizer que o mesmo exercício, na mesma intensidade, na mesma duração e na mesma frequência semanal, proporcionará diferentes efeitos de treinamento em cada corpo, dependendo de fatores como: sexo, idade, capacidade máxima, experiência prévia e técnica de execução.

2º – Princípio da sobrecarga crescente:

Este princípio estabelece que, para adquirir uma boa aptidão física, o organismo precisa ser submetido a esforços cada vez maiores (mais intensos ou por um tempo maior, ou ainda em maior frequência), de tal maneira em que possa provocar no organismo reações de adaptação que acarretem a melhoria da aptidão. O aumento da sobrecarga pode ser obtido através de um dos fatores indicados a seguir:

Frequência: Aumento do número de treinamentos em uma semana, por exemplo;

Volume: Aumento da distância, do número de repetições ou, por exemplo, do tempo de duração;

Intensidade: Aumento da velocidade, da carga ou, por exemplo, diminuição do tempo de descanso entre uma execução e outra.
Como regra geral, desaconselha-se a alteração de mais de um fator ao mesmo tempo.

3º – Princípio da especificidade:

É o princípio que determina que cada atividade física tenha suas próprias características, suas possíveis adaptações de acordo com o objetivo e seus estímulos os quais o organismo é submetido, criando efeitos paralelos específicos.

4º – Princípio da continuidade:

Este é o princípio que rege que a atividade física deve ser realizada continuamente, sem interrupções, pois a interrupção de qualquer tipo de atividade leva o organismo ao retorno da situação inicial.

De forma geral, quanto maior for o período de interrupção, maiores serão os prejuízos à condição física, sendo que a retomada e o estabelecimento de um novo treinamento dependerá do nível em que você estava quando interrompeu os trabalhos e do tempo em que ficou inativo.

Nos dias de hoje, somente conseguem sucesso os desportos ou equipes que planificam seus resultados com base nos princípios do treinamento. Tanto os treinadores como os jogadores de futebol devem levar em conta determinadas considerações e fases, para conseguir o almejado alto rendimento.

A ciência do treinamento, juntamente com a prática, formularam normas chamadas de “princípios do treinamento”. Esses princípios fornecem uma base sistemática a todas as fases e passos dos processos de adaptação, de acordo com as metodologias de treinamento. Nos últimos tempos, o contexto científico do treinamento esportivo teve um crescimento notável de investigação. O treinamento já é aceito há algum tempo como ciência, tem sua posição científica reforçada como referências consideradas essenciais para todos que buscam o alto rendimento. Neste artigo abordar-se-á 7 princípios científicos de Treinamento Desportivo que são: O Principio Cientifico da Individualidade Biológica; O Principio da Adaptação; O Principio da Síndrome Geral da Adaptação (SAG); O Principio da Sobrecarga; O Principio da Continuidade; O Principio da Reversibilidade; O Principio da Interdependência Volume-Intensidade e O Principio da Especificidade (TUBINO, 1979; FERNANDES, 1994; AOKI, 2002).

Para que se utilize os princípios científicos do treinamento esportivo, é necessário que a programação dos conteúdos sejam realizados dentro de blocos de treinamento, onde é planejado a composição de cada ano, mês, semana, dia e sessão de treinamento. Este planejamento implica no acompanhamento dos resultados obtidos e na reprogramação dos conteúdos durante o processo de treinamento. Primeiramente realiza-se um prognóstico, que basicamente é uma projeção inicial dos conteúdos do treinamento, o qual é efetuado mediante o levantamento de variáveis como esporte, idade, sexo e estágio de condicionamento do atleta, e através de testes físicos, estes levantamentos recebem o nome de diagnóstico (HERNANDES JR., 2002).

O Principio da Individualidade Biológica – Um grande número de treinadores aceitam a afirmação de que somente os indivíduos mais favorecidos geneticamente, podem chegar á performance excepcionais. Mas colocar a hereditariedade acima de tudo é um risco, pois caso o atleta não consiga obter os resultados esperados, pode-se concluir que um treinamento desenvolvido numa metodologia cientifica poderá levar os atletas a progressivas adaptações orgânicas, o que levara a esses resultados inesperados. Deste modo, o princípio da individualidade biológica explica a variabilidade entre elementos da mesma espécie que faz com que não existam pessoas iguais entre si. Cada ser humano possui uma estrutura física e psíquica própria, o que obriga a estabelecer diferentes tipos de condicionamento para um processo de preparação desportiva que obedeça às características físicas e psíquicas individuais dos atletas. Para obter essas características, emprega-se o uso de testes, que fornecem dados importantes para o planejamento de um treinamento individual (TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002).

O Principio da Adaptação – Quando o organismo está adaptado, há um equilíbrio entre os processos de síntese e degradação, enquanto não sejam interrompidas as exigências normais. Isto quer dizer que cada organismo, quando se encontra adaptado, está num equilíbrio dinâmico denominado homeostase. Se a homeostase é interrompida por um estímulo, o organismo irá procurar restabelecer o equilíbrio. Caso esse estímulo seja muito forte, o que degenera o organismo total ou parcialmente, a homeostase se interrompe pelo domínio dos processos degenerativos e exige como resposta um aumento dos processos constitutivos. Se a homeostase provoca um aumento do nível de ressíntese, deverão ser relacionadas cargas consecutivas de treinamento, para que ocorra uma estabilização dos processos anabólicos. A ressíntese tem como objetivo proteger a estrutura de um esgotamento excessivo da sua capacidade no momento em que o organismo volta a experimentar um novo estímulo. Quando a carga de treinamento não produz alterações significativas da homeostase, é necessário aumentar a carga de trabalho de maneira uniforme ou descontinuamente progressivo. Porém a redução da carga em certas ocasiões é também um fator importantíssimo para o aumento do rendimento, pois há momentos onde o organismo cansado já não assimila mais o trabalho. Deste modo é necessário diminuir a carga de forma descontínua e durante pouco tempo, o que melhora o rendimento, caso contrário, poderá ocorrer uma perda funcional do sistema devido a uma sobrecarga.

Dependendo do momento em que se encontra o desenvolvimento do treinamento o organismo pode entrar em um estado de supertreinamento, o que acarreta uma queda descontrolada do rendimento, caso a carga de trabalho não seja reduzida. Este fenômeno no futebol pode ocorrer principalmente na segunda metade do campeonato, especialmente se a equipe joga duas vezes na semana. Isso é comum no futebol brasileiro, onde muitas equipes participam ao mesmo tempo em mais de um campeonato durante a temporada (FERNANDES, 1994).

O Principio da Síndrome Geral de Adaptação (SGA) – Segundo Selye (1956), citado por Tubino (1979) e de acordo com Hernandes Jr. (2002), é a reação do organismo frente aos estímulos que provocam adaptações ou danos ao mesmo sendo que esses estímulos são denominados agentes estressores ou estressantes. Segundo Tubino (1979) e Hernandes Jr. (2002) há três fases de SGA:

Fase de Alarme – É a aplicação das sobrecargas no organismo. É caracterizada pelo desconforto, é dividido em choque e contrachoque. O choque é a resposta inicial do organismo á estímulos aos quais não está adaptado, provocando a diminuição da pressão sangüínea. O contrachoque é o inverso, ocorre o aumento da pressão sangüínea;

Fase da Resistência – É a fase de adaptação, onde há o desenvolvimento adequado dos canais específicos de defesa, sendo esta etapa caracterizada pela dor e pela ação do organismo resistindo ao agente estressante inicial, ou seja, ocorre quando o organismo busca a adaptação para resistir às demandas impostas pelo estímulo. É a fase que mais interessa ao treinamento desportivo;

Fase de Exaustão – É aquela em que as reações se disseminam, em conseqüência da saturação dos canais apropriados de defesa, tendo como característica a presença do colapso, podendo chegar até a morte. Isso ocorre quando o estímulo persiste além da capacidade de recuperação do organismo, o mesmo terá suas reservas diminuídas e conseqüentemente entrará em estresse.

No treinamento devemos evitar a fase de exaustão propiciando aos atletas os tempos corretos de recuperação aos estímulos. Analisando este princípio, conclui-se que há quatro situações básicas onde possamos aplicar o estímulo: a) Antes da recuperação energética ao nível inicial; b) No momento da recuperação energética ao nível inicial; c) No momento em que o organismo realiza a supercompensação e d) Após o organismo ter executado a supercompensação (HERNANDES JR., 2002).

O Principio da Sobrecarga – Para que o treinamento gere aumento da performance é preciso que exponhamos o organismo á estímulos maiores que os normalmente encontrados, ou seja, sempre que o estímulo se estabilizar o organismo também estabilizara a resposta. Isto não significa que devemos sempre treinar mais e mais forte, pois caso isso ocorra, iremos esgotar a capacidade de o organismo responder aos estímulos e estaremos adentrando a síndrome do estresse de treinamento (HERNANDES JR., 2002).

Segundo Fernandes (1994) e Hernandes Jr. (2002), para adaptar o organismo ao novo esforço, deve-se primeiramente selecionar a carga (intensidade) do trabalho, e o estimulo deve ter uma curta duração para provocar a supercompensação. Além da intensidade, a adaptação também depende do volume. Para manter a intensidade da carga, é necessário que o volume tenha uma duração adequada, através do maior número de repetições. Para que ocorra a supercompensação é fundamental que se escolha a carga adequada de trabalho, com uma correta fase de recuperação, estabelecendo uma boa relação entre volume, intensidade e recuperação. Para que haja uma progressão da carga de trabalho a ordem normalmente utilizada é: aumento da freqüência de treinamento, aumento do volume da carga e aumento da intensidade da carga.

Em resumo, essa progressão de carga ocorre quando se aumenta o volume (repetições, séries, distância, tempo, etc.) ou a intensidade (carga, velocidade, etc.) do treinamento, sendo que no caso do treinamento intervalado, o mesmo pode ocorrer com a diminuição dos intervalos de descanso entre as séries (HERNANDES JR., 2002).

O Princípio da Continuidade – Para que o treinamento tenha resultados positivos e provoque alterações fisiológicas, onde a performance adquirida seja otimizada, é necessário que haja um treinamento contínuo, sem interrupções. Mas sabe-se que a condição atlética de um atleta só pode ser conseguida após alguns anos seguidos de efetivo treinamento. Este princípio compreende que no treinamento que está sendo aplicado em uma sistematização de trabalho, não permite uma quebra de continuidade, ou seja, considerando um tempo maior, o princípio da continuidade é aquele que não admite interrupções durante esse período. Quando se analisa um atleta de alto nível, é fácil constatar que este possui uma imensa bagagem, contendo vários processos de treinamento sem as indesejáveis paralisações. Caso ocorram interrupções ao treinamento, ou se trabalhe com sobrecargas extremamente leves por longos períodos, a capacidade de performance diminuirá, afetando assim a qualidade do treinamento aplicado. O uso de uma mesma carga pelo simples fato de ela ter alterado a homeostase pode não ser o suficiente para produzir o mesmo efeito na sessão seguinte. Portanto, o mais apropriado é organizar sessões de treinamento com cargas que sempre levem á supercompensação através de um treinamento continuo. Uma vez que não houve supercompensação, é sinal de que houve adaptação pela continuidade da carga, então é necessário alterar a carga, para provocar novos processos de adaptação (TUBINO, 1979; FERNANDES, 1994; HERNANDES JR., 2002).

O Principio da Reversibilidade – Quando se para de treinar, quase todas ou senão todas as adaptações conseguidas ao longo de muito treinamento são em questão de semanas revertidas, reduzidas á níveis iniciais. Dentro de alguns meses de total sedentarismo todas as adaptações conseguidas são perdidas por completo. Por isso é muito importante conscientizar o atleta que durante seu período de férias (transição), continue a realizar algum tipo de atividade física, não necessariamente o esporte que se pratica, mas alguma outra que o mantenha ativo. Normalmente os atletas querem ficar distantes de qualquer tipo de atividade física nas férias, cabe á comissão técnica instruir seu atleta para que este tenha consciência que a prática de exercícios físicos nas férias são benéficas e mantém a performance, condição física adquirida ao longo da temporada (AOKI, 2002).

O Princípio da Interdependência Volume – Intensidade – O êxito dos atletas de alto rendimento, independente da modalidade esportiva, estão sempre referenciados a uma grande quantidade (volume) e uma alta qualificação (intensidade) no trabalho, apenas informando-se que a estimulação predominante dessas duas variáveis (volume e intensidade) deverá estar sempre adequada ás fases de treinamento e terá que seguir uma orientação de interdependência entre si (TUBINO, 1979). Em outras palavras isso quer dizer que qualquer incremento de volume implicará em modificações na estimulação da intensidade e o contrário é verdadeiro. Na maioria das vezes, o aumento dos estímulos de uma dessas duas variáveis é acompanhado pela diminuição da abordagem de treinamento do outro, ou seja, aumenta o volume reduz a intensidade e vice-versa.

O Principio da Especificidade – Defende a idéia de que se deve selecionar esforços que tenham como fonte energética a mesma atividade, para que, assim desenvolvamos positivamente o nível de performance, ou seja, realizar treinos físicos que sejam semelhantes ao esporte praticado. Além da fonte energética, devemos analisar ainda a especificidade do gesto motor dos esforços escolhidos para os gestos motores da atividade em questão. A especificidade do treinamento é que determina a transferência ou não da performance do exercício á atividade que iremos desempenhar. Há duas possibilidades, a transferência positiva quando o exercício proposto aumenta a performance da atividade alvo e a transferência negativa, quando o exercício proposto diminui ou prejudica a performance da atividade alvo (HERNANDES, JR., 2002).

É comum notarmos que o princípio da especificidade não é respeitado, onde atletas de esportes anaeróbios realizam uma grande carga de exercícios aeróbios, tais como corridas de longa duração, ou até mesmo utilizam-se da musculação sem adaptarem os movimentos a seu esporte, usando deste modo protocolos voltados apenas para o desenvolvimento da massa muscular ou da força motora. A escolha errada de exercícios (meios de treinamento), provoca uma limitação aos níveis máximos da performance que estes indivíduos poderiam atingir (HERNANDES, JR., 2002).

Após a leitura dos princípios científicos do treinamento esportivo citados acima adquire-se uma noção básica de como devemos proceder ao planejar o Treinamento Físico de uma equipe de alto rendimento.

BIBLIOGRAFIA

AOKI, M. S. Fisiologia, treinamento e nutrição aplicados ao futebol. Jundiaí: Editora Fontoura, 2002.

FERNANDES, J. L. Futebol: ciência, arte ou…sorte!: treinamento para profissionais – alto rendimento: preparação física, técnica, tática e avaliação. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1994.

Qual a principal importância dos princípios do treinamento físico?

A constante melhora e equilíbrio de todos estes atributos físicos é o ponto fundamental na preparação física e técnica de um atleta. Por isso, a aplicação correta dos princípios do treinamento esportivo é fundamental neste esporte e esta diretamente correlacionada com o aumento do desempenho individual do atleta.

Quais são os principais princípios do treinamento físico?

Para Tubino os cinco princípios do Treinamento Esportivo são: O Princípio da Individualidade Biológica, O Princípio da Adaptação, O Princípio da Sobrecarga, O Princípio da Continuidade, O Princípio da Interdependência Volume-Intensidade (TUBINO, 1984).

Qual a importância do princípio da especificidade em um programa de treinamento?

A especificidade é um dos fatores essenciais entre os princípios do treinamento esportivo. Afinal, refere-se aos ajustes necessários para que o treinamento seja específico para a prova ou modalidade na qual o atleta irá competir.

Qual a importância da sobrecarga no treinamento?

A sobrecarga explora os mecanismos do corpo que trazem as mudanças desejadas que andam de mãos dadas com a especificidade. O aumento da resistência requer o levantamento de cargas progressivamente mais pesadas e praticar o esporte em questão de forma mais intensa.